Café com Letras revela talentos

e premia CEJA Donaninha Arruda

Por Clarisse Cavalcante, jornalista, MTB/CE 1769.

Fotos: Artur Camurça

Hyllare Torres; Ingrid Lima; Veridiana Torres;Laura len; César Monteiro

Com o uso de múltiplas linguagens e textos que passeiam entre a loucura e os encontros, os temas cotidianos e subjetividades humanas, o CEJA Donaninha Arruda reuniu a comunidade de educadores e artistas do município de Baturité-CE para a realização da quarta edição do Sarau Poético Café com Letras, aberto a toda a comunidade, na noite de 10 de dezembro de 2009. O projeto é resultado de um trabalho coordenado pelos professores da área de Linguagens e Códigos com a co-participação das áreas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza.

Desde 2006 o evento vem possibilitando a descoberta de novos talentos literários da escola e da comunidade. Francisco de Assis Gomes, 28 anos, é um exemplo disso. Durante o processo de conclusão do ensino médio, o agricultor se interessou pela interpretação teatral de poemas desde a primeira edição do Sarau, surpreendendo os professores com a imensa sensibilidade e dramaticidade de sua atuação. “Para mim o Café com Letras foi a realização de um sonho, de escrever poesias, e de ser valorizado pelo meu conhecimento”. Mesmo não sendo mais aluno, Francisco faz questão de participar do grupo de teatro da escola"Espetáculos da Vida" e do sarau.

Proporcionando diálogos entre artistas locais e renomados, fomentando a criatividade e colaborando na formação de uma geração de leitores críticos, o Café com Letras já faz parte do calendário anual do CEJA. Para a coordenadora do Sarau, professora Glícia Lima, é a continuidade do trabalho que faz do Café com Letras um agente disseminador da educação. “Estar continuamente trabalhando com novos talentos faz com que nosso projeto seja, essencialmente, um espaço de diálogo entre a cultura local, o cotidiano real dos moradores da comunidade com seus sonhos e suas lutas, e a cultura erudita, apreendida dos livros e das escolas literárias”.

Em 2009, cerca de 100 pessoas participaram das apresentações, construídas em múltiplas linguagens, como o teatro, a música e o coral, executadas por artistas de todas as idades. A quarta edição contou com uma homenagem especial, ao poeta Patativa do Assaré e ao escritor e educador Salomão de Moura Alves Brasil, que se imortalizou através de suas serenatas de amor.

Para a professora Ana Cláudia Assis - diretora do CEJA, o evento representou um encontro de gerações e partilha de saberes, contando pela primeira vez com a participação de um grupo de alunos da “melhor idade” do CEJA/PAPI-Programa de Alfabetização da Pessoa Idosa, que apresentaram os dramas, resgatando fragmentos da cultura popular perdidos e esquecidos no tempo. “A performance dos dramas proporcionou grande euforia na platéia que surpresos com o espetáculo que presenciavam aplaudiam emocionados. A experiência vivenciada neste Sarau, me fez lembrar Paulo Freire, quando diz: " Neste lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos, há homens (e mulheres) que, em comunhão, buscam saber mais". Conclui Cláudia.

Regina Castro, ex-professora do CEJA Donaninha Arruda uma das idealizadoras do projeto, diz que a importância do Café com Letras se dá por seu alcance social e poético. “É gratificante ver a transformação do potencial das pessoas, o despertar da sensibilidade e da capacidade de expressão, daquilo que Paulo Freire chamou de ‘boniteza de ser gente’, de ir além do que lhe foi proposto pela dureza da vida”.

Por despertar a auto-estima das pessoas e incentivar o uso de linguagens variadas na educação, o Café com Letras obteve o primeiro lugar na modalidade ‘Educação de Jovens e Adultos’ no Prêmio Construindo a Nação, promovido pelo Instituto Cidadania Brasil/SESI, para escolas de todo o Brasil. Pelo terceiro ano consecutivo, o CEJA Donaninha Arruda é campeão da categoria, anteriormente com os “Projetos Pássaro Livre” (2007) e o “Folguedo do Reisado em Baturité” (2008). “Acreditamos que a escola tem a missão de partir do que a comunidade tem, para chegar ao formal, de despertar valores e interesses de se expressar através da linguagem, e assim tornar-se referência de disseminação da cultura e transformador da realidade local”, conclui Glícia Lima.

Atores e platéia no encerramento do sarau - Fotos: Artur Camurça